segunda-feira, 2 de junho de 2008

POLÍTICA NO DF E CORONELISMO

Política no DF e coronelismo
Antônio Flávio Testa
O jogo político no Distrito Federal sempre foi disputado por representantes de três grandes correntes políticas. A primeira, vinculada aos interesses das oligarquias goianas, detentoras de grande patrimônio fundiário e praticantes de uma política coronelista e retrógrada, baseadas no clientelismo e na corrupção. O segundo grupo concentra representantes dos sindicatos, dos servidores públicos, dos movimentos sociais e outros, enquanto, o terceiro, representa basicamente os interesses do poder econômico local.
A história política brasiliense mostrou que a articulação entre estas três grandes forças ocorreu visando à captura do poder executivo: o governo do Distrito Federal.
Desde 1988, quando o PMDB indicou um político com formação e visão paroquiais para governar o DF, houve uma aproximação, por interesses, entre as forças do entorno e os representantes do capital local. Aquela aliança política e econômica funcionou durante mais de uma década, caracterizando um estilo de governo baseado em um discurso populista, muito próprio das oligarquias brasileiras; práticas assistencialistas, com o intuito de cooptar os pobres; obras faraônicas para atender os interesses dos empreiteiros mais do que as necessidades da sociedade; cooptação da mídia local, mediante compra de espaços para publicidade institucional; aquisição de empresas de comunicação por agentes e aliados do próprio governo.
Nos últimos anos, o governo do DF não teve fiscalização da mídia local, sobretudo a imprensa. O ex-governador e ex-senador Joaquim Roriz governou sem oposição e sem fiscalização da imprensa. A neutralização da mídia local deu-lhe condições de governar como se fosse um grande empreendedor, o que não era verdadeiro.
Esse político demonstrou muita habilidade para neutralizar, por meios ilícitos, outras instâncias do Estado, passando ao largo de dezenas de processos contra ele. A relação política estabelecida com a Câmara Distrital baseou-se na cooptação e na ameaça, funcionando sempre como uma extensão dos interesses da aliança entre os representantes das oligarquias goianas e do empresariado local, sobretudo da construção civil, da tecnologia de informação, da prestação de serviços variados ao GDF, da grilagem de terras e mudança de destinação de terrenos públicos, para atender interesses bem pontuais de grupos econômicos e pessoas.
Brasília foi governada por quinze anos por um grupo político comandado por um líder sem preparo gerencial e sem formação política para empreender um projeto de governo que tornasse a capital da república uma referência nacional em modelos de gestão pública.
Houve muito investimento em infra-estrutura, trazendo mais benefícios às empreiteiras do que à população. Não houve auditorias técnicas sobre obras faraônicas, nem sobre a contratação de serviços de tecnologia e tampouco para os mais variados serviços contratados pelo governo.
O uso do Banco de Brasília (BRB), que deveria fomentar o desenvolvimento local, foi sempre para beneficiar um pequeno grupo. Em educação, saúde, trânsito, segurança e outras demandas fundamentais da sociedade, as ações sempre foram clientelistas e voltadas para a conquista do voto fisiológico, justificação do discurso populista e benefício de fornecedores e aliados.
A lógica da política local revela o traço mais perverso do assistencialismo político nacional. A estratégia de atrair milhares de brasileiros para o entorno sem dar a eles condições de emancipação, gerando emprego e renda, oferecendo educação, saúde e segurança, mostra o quanto a política da região ficou dependente do jogo político centralizado no GDF.
A expectativa maior é que o foco da política do DF seja invertido. Isto é, que se olhe o entorno a partir de Brasília. Mas a mudança de foco só ocorrerá por meio de ações estratégicas: formação de novas lideranças políticas oriundas de setores progressistas baseados no crescimento econômico local; desenvolvimento gerencial e institucional; educação empreendedora; mudança da cultura política do entorno para uma cultura participativa; aumento da capacidade de governo nos municípios oferecendo educação de boa qualidade, saúde e segurança. Isto é, a cultura política do DF terá que mudar substancialmente, se quiser liderar o crescimento econômico da região metropolitana e melhorar a vida dos brasilienses e vizinhos

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